Me afasto, cada vez mais, das pílulas de entretenimento e suas fascinações. Dessa forma subliminar de nos tratar como neuróticos, sedentos pela droga que irá nos livrar do peso da existência. Desses fogos de artifícios que projetam um mundo pretensamente mais divertido que o real. As propagandas sugerem bebidas para ser feliz, carros para ser feliz, roupas para ser feliz e as pessoas compram bebidas, carros e roupas mas não são felizes.
O que há de errado? Será que sou eu, doutor? Durante a infância, lembro do meu lance com o futebol. Cada partida do Corinthians era uma sessão catártica que me elevava a outra dimensão. Os jogos da seleção brasileira, então, eram esperados como o desembrulhar revelador de uma manhã de Natal. Até que furaram a bola. Descobri que as apostas eram altas, os apostadores poderosos e os árbitros não conseguiam pagar as suas contas somente com o apito. E, frustrado, abandonei a fascinação pelo futebol.