04 maio 2011

Aumentam desastres naturais em Apucarana

Poder público e sociedade civil são cobrados a buscar formas de prevenir e minimizar os efeitos causados principalmente por tempestades e vendavais.                                                                                    
Problemas nos setor ambiental em municípios do Vale do Ivaí colocam em risco a vida da população.
                                  

A mudança climática, principal causa das tragédias ambientais ocorridas no planeta, também tem feito aumentar a ocorrência de desastres naturais em Apucarana. Segundo balanço feito a partir de dados divulgados pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Paraná, a média de pessoas afetadas por esses fenômenos no município de 2008 pra cá é 38,6% maior do que a registrada na última década. Outros municípios da região do Vale do Ivaí também sentem os efeitos da ação da natureza. Especialistas defendem medidas urgentes de prevenção tanto do poder público, quanto da sociedade civil


De acordo com os dados da Defesa Civil, Apucarana registrou 23 desastres naturais desde 2002, uma média de 2,3 ocorrências por ano. Contudo, 11 desses casos aconteceram somente de 2008 pra cá, chagando à média de 2,75/ano. O mais preocupante é que esses fenômenos estariam se tornando cada vez mais intensos. É o que pode concluir a partir do número de pessoas afetadas. Na última década, foram 22.986 no total, média de 2.298/ano. Somente de 2008 até agora 12.746 habitantes tiveram a rotina alterada devido aos fenômenos, média de 3186/ano, 38,6% superior à da década.
Vendavais e tempestades são os principais ocorrências. Foram 11 casos nos últimos dez anos, o que resultou em 986 pessoas afetadas, 397 casas danificidas e outras duas totalmente destruídas. No entanto, um único alagamento, em 2009, foi responsável pelo maior número de vítimas registrado: 12 mil habitantes. Também chama a atenção a ocorrência de uma chuva de granizo em outubro de 2008, um mês considerado atípico para esse tipo de ocorrência. Na ocasião, 70 pessoas foram afetadas. Em 2005, um casal morreu após uma inundação brusca na região do CAIC, que danificou 200 casas, destruiu 10 e afetou 9700 pessoas. O levantamento também levou em conta danos causados por veículos com risco de vazamento de produtos perigosos e casos relacionados ao transporte ferroviário.


 A presidente do Grupo Ambientalista Interdisciplinar de Apucarana (Gaia), Nadir Maria Spaciari Kuchpil, explica que os desastres naturais são agravados devido à exploração inadequada do homem do meio ambiente. Na sua opinião, o poder público e a sociedade civil devem desenvolver políticas adequadas, visando prevenir esses desastres. “Para isto, deve-se investir também na Educação Ambiental para que as pessoas passem a agir de forma responsável, tomando consciência de todos nós fazemos parte do planeta e  que as atitudes para melhorar são simples, conseguidas com a aplicação de simples cuidados do dia-a-dia”, afirma Nádir, que atua há vinte e cinco anos na área de educação ambiental.
Para dar uma resposta rápida às vítimas em casos de desastres naturais, o coordenador da Defesa Civil de Apucarana, cabo Maurício de Melo, afirma que o município precisaria de um depósito para reservar materiais de construção, lonas e alimentos. Ele reconhece que, em casos extremos, também seria necessário um galpão para desabrigados, mas a questão esbarraria em um problema cultural. “Muitas pessoas acabariam querendo ficar definitivamente no local, já que não se paga aluguel nem comida. Por isso, deve haver um trabalho de conscientização”, explica.   


Construções irregulares agravam o problema
Ocupações irregulares em encostas e locais de preservação ambiental por parte de moradores favorecem deslizamentos e fazem com que os efeitos da ação da natureza sejam ainda mais drásticos. Segundo a prefeitura, cerca de 100 famílias se encontram nessa situação em Apucarana, em localidades como Vila Apuicaraninha, Parque Bela Vista e Japira. Em proporções muito menores, é o mesmo problema registrado na região serrana do Rio de Janeiro, onde fortes chuvas mataram mais de oitocentas pessoas em janeiro deste ano. 
Deveria haver fiscalização preventiva 24 horas por dia para evitar esse tipo de ocupação, na opinião do secretário de Infraestrutura Urbana, Herivelto Moreno. “Bobeou, num e sábado e domingo a casa está pronta, às vezes inclusive com acobertamento dos vizinhos”, diz ele, ilustrando a dificuldade enfrentada. “As pessoas devem denunciar”, completa. Segundo Moreno, nesses casos, não se pode simplesmente retirar esses moradores de suas casas, sob pena de se criar um problema social. “A maioria desses moradores são mulheres com quatro, cinco filhos. Não tem pra onde mandar essas pessoas”, afirma ele.

Segundo o coordenador da Guarda Municipal, José Cláudio dos Santos, que também é membro da Defesa Civil, outro agravante é o fato de moradores construírem utilizando materiais de construção inadequados por questão de economia, e também não levarem em conta especificações técnicas de engenharia. “Alguns moradores constroem casas e muros abaixo do nível recomendado e, com isso, ocorrem infiltrações na base da construção e elas acabam cedendo. O uso e a ocupação do solo devem ser bem estudados”, alerta. Santos também esclarece que a maior parte dos alagamentos no município é causada pelo lixo jogado em ‘bocas-de-lobo’.

Outros municípios da região também são afetados 



A pedido do Correio do Vale, as arquitetas e urbanistas Sandra Mayumi Nakamura e Vanessa Boscaro Fernandes, especialistas em Gestão em Engenharia Ambiental, produziram um artigo sobre problemas pontuais em municípios do Vale do Ivaí que podem originar desastres causados pela natureza. As duas participam como palestrantes do 3º Congresso Sul Brasileiro de Gestão Pública, que termina hoje em Curitiba. Elas ressaltam a importância do planejamento territorial como forma de prevenção às tragédias.
O texto diz que a avenida principal do município de Grandes Rios foi instalada num divisor de águas e alerta que, caso os gestores públicos não evitem ocupações em áreas de restrição ambiental, "poderá haver o desencadeamento de deslizamentos de terras e a morte dos ocupantes sobre estas áreas". A situação seria semelhante em Borrazópolis e Rosário do Ivaí. Em Faxinal e Cruzmaltina, haveria falta de "alternativas adequadas para os resíduos sólidos e instalação de aterros sanitários, mediante diretrizes de Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) e de Coleta Seletiva".

Em Marumbi e Jandaia do Sul a maior preocupação fica por conta do uso da terra rural, "onde se tem a nítida mudança da produção rural para a monocultura da cana-de-açúcar, onde há extensas áreas plantadas, o que a longo prazo poderá causar sérios danos ambientais pela saturação dos nutrientes do solo ou mesmo sociais pela alta mecanização dos processos produtivos, onde a população não vê alternativas de emprego". O artigo cita ainda que parte do território rural da região de Apucarana sofre "graves problemas de erosão, em especial junto a nascentes e margens de rios, desencadeados em grande parte por ineficientes sistemas de drenagem urbana, cuja conseqüência atinge o meio rural”. Finalizando, o texto ressalta que o planejamento, por meio de planos diretores, de habitação, além de saneamento básico e atuação da Defesa Civil podem evitar ou mesmo minimizar prejuízos à vida humana e aos cofres públicos. 

Um comentário:

  1. A questão é que em nome da modernidade se permitiu e se permite toda sorte de atos irresponsáveis. Há conjuntos aqui em Arapongas lançados faz poucos anos que estão bem próximos à Bacia dos Apertados. O que é uma vergonha.

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