01 outubro 2012

Meditando em local impróprio

Semana passada, ao acordar, resolvi meditar de frente para o sol, na varanda de casa. Há três anos pratico ioga e sei que só quem ousa manter “a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo” conhece os benefícios dessa técnica milenar. É de domínio da ciência, por exemplo, que o controle respiratório desacelera o coração e tranquiliza a mente, tornando as situações mais claras e os problemas mais fáceis de serem resolvidos. Por coincidência, um conhecido passava naquele momento em frente de casa e estranhou eu estar ali logo cedo. Quebrando minha concentração, questionou em tom jocoso se não tinha vergonha de me expor daquela forma de frente pra rua. “O pessoal vai te zuar, cara”. A partir daquele dia, passou a me tratar de forma mais estranha, quase como se eu fosse um ser de outra constelação.

Devo confessar que não é muito comum em nossa cultura ocidental se deparar às sete da manhã com um sujeito meio indiano feito eu com as pernas cruzadas e olhos fechados. Compreendo que, nesses casos, pesa bastante o estereótipo, formado principalmente pelo cinema, de alguém meio no mundo da lua, ligado somente nas coisas do “astral”, fora do mundo dito “real” (http://www.facebook.com/photo.php?fbid=338671512875457&set=pb.100001978328720.-2207520000.1349090244&type=1&theater). Enfim, nessa perspectiva, não me deixei abalar pelo comportamento do camarada.
No entanto, passei a refletir em como nós, ocidentais, somos mecanizados e aceitamos, sem questionar, as regras ideológicas, culturais e civis que nos são impostas. Ainda que essa regra seja desfuncional. Nesse tsunami de informações da nossa era, por exemplo, pode-se descobrir facilmente que os refrigerantes possuem valor nutricional quase nulo, enfraquecem os ossos, prejudicam a boa forma e podem até contribuir para o surgimento de câncer. Mesmo assim, não vejo ninguém se escondendo de vergonha para tomar uma coca-cola.
O professor Hermógenes, um dos grandes iogues do Brasil, utiliza um termo perfeito para classificar o padecimento desse tipo de mentalidade: normose. Ou seja, “o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte”.
Esse comportamento é fruto de um sistema nefasto, uma engrenagem formada pelas relações predominantes de uma sociedade, que massifica comportamentos e expectativas. E as pessoas estão tão dependentes desse sistema que, inconscientemente, passam a defendê-lo como se fosse a própria vida. Me lembro de uma cena do principal filme dos irmãos Wachowski, em que as pessoas, ignorantes da existência da Matrix, se tornam a própria Matrix quando percebem que alguém está ultrapassando seus limites.
Por uns momentos, me senti mal pelo comentário, com o ego abalado. Mas refletindo melhor, percebi que a gratidão por ser uma exceção à regra é um sentimento mais nobre. Ainda bem que existe a arte, a música e pessoas que gostam de contemplar a vida de uma maneira diferente. “Enquanto você se esforça pra ser, um sujeito normal e fazer tudo igual”, “dos cegos do castelo me disperso e vou”, “And birds go flying at the speed of sound, to show you how it all began. Birds came flying from the underground, if you could see it then you'd understand”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OBS: Como prevenção, todos os comentários serão lidos antes de publicados. Terão maravilhosa probabilidade de entrar aqueles que respeitarem os itens abaixo:

1 -É interessante que o comentário tenha relação com o assunto da postagem, mas, como a Teoria do Caos mostra que tudo pode estar inter-relacionado, com criatividade vale tudo.
2 - Propaganda de outros sites não são muito virtualmente saudáveis (e comentando com o open ID o link é automático);
3 – Maledicências personificadas é chato pra caramba!
4 – Comentários anônimos serão aceitos, desde que não configurem ofensas e sejam criativos.

Postagens mais populares