20 outubro 2012

Minha crítica sobre Avenida Brasil

Ontem, sexta-feira, houve o ato final de uma obra que já consta entre o top 10 (5?) da teledramaturgia brasileira. O sucesso ‘tsunâmico’ de Avenida Brasil pode marcar o início de um novo estilo de fazer novela e, quem sabe, ditar tendências no mercado autoral brasileiro. Foram sete meses em que horário das nove marcava um compromisso quase religioso de milhões de pessoas com a tevê e servia de pauta para as conversas das salas de espera ao botequim , a ponto de ofuscar a ótima Fina Estampa, obra anterior transmitida pela emissora. Consagrou ainda a interpretação não só convincente, como também indignante, de uma Adriana Esteves genial, que entrou definitivamente para o hall das maiores atrizes brasileiras. 
A trama de João Emanuel Carneiro acertou na forma, não tanto na essência, o que confirma a tese de que hoje em dia ninguém liga tanto para conteúdo. A linguagem adotada, ajustada à demanda emergencial da nova classe média, tendeu ao popular (esco?). As encenações passavam a impressão de que o elenco - de primeira - estava solto para improvisar, transmitia naturalidade e verdade. Como se a gente estivesse espiando uma conversa pela janela e não um trabalho pela televisão. Contou a favor os enquadramentos cinematográficos perfeitos e as câmaras em movimento, justificáveis pela formação de seu autor. 
Conflitos com desfechos rápidos evitavam o prolongamento dos dramas, abusados no desgastado modelo das novelas do último milênio. Cada capítulo se pagava por si só e despertava a curiosidade de qual rosto teria a imagem congelada sobre o fundo de luzes de carros da avenida. A grande genialidade do autor, na minha opinião, foi o desvendar gradual dos segredos do núcleo principal da trama. A cada nova descoberta, mudava-se a perspectiva em relação aos personagem em questão, dando um clima de suspense que, sempre suavizado com toques de humor , mantinha o vigor do folhetim.
Contudo, o conteúdo deixou a desejar para mim, fiel a alguns valores morais. A começar pelos hábitos nada abstêmios dos personagens. O Jorginho, por exemplo. A Nina brigava com ele, ele pegava uma cerveja. A Nina reatava com ele, ele pegava uma cerveja. O Divino ganhava, cerveja. O Divino perdia, cerveja. Isso também vale pro Leleco, Tufão, Max, Cadinho, etc. Não me lembro de ter assistido outra novela com tantas cenas de bebidas alcóolicas. 
Sem contar a utilização da vingança e da ganância humanas como eixo central e as tragédias decorrentes disso, fato que transformou o tradicional final feliz em um breve suspiro de alívio. E a banalização do sexo? E desmoralização da família? A tevê, enquanto diálogo imediato, é uma via de mão única. As cenas vão passando, enquanto o telespectador fica estático, em transe. Estude um pouco de psicologia e de hipnose para entender melhor o que estou falando. E paro por aqui antes que alguém me tache de moralista e conspirador. 
Um outro ponto falho e, em alguns casos, até infantil foi a argumentação. Um exemplo: quando a Nina perdeu as fotos que incriminavam Max e Carminha. Como uma mulher rica e esclarecida como ela não pensou num pendrive? Outro exemplo: como uma motoquinha daquela conseguiu alcançar um carro de última geração ao descobrir o cativeiro de Tufão? É a formiga atômica?
Na parte comercial, teve ainda a estratégia questionável do ponto de vista ético de incluir merchandising entre as cenas sem faixa indicativa. É quase uma mensagem subliminar. Prática essa que ajudou a novela a emplacar cerca de R$ 1 bilhão em publicidade, segundo a revista Forbes, um recorde da história da TV Globo. Plim-Plim ($). Como a novela fez muito e muito sucesso, graças a uma equipe técnica, cenográfica e cênica fantásticas (pra usar um termo global), já sabemos o que deve estar vindo por aí. Só espero que a nova classe média, que financia indiretamente tudo isso, comece a evoluir não só financeiramente, mas também, culturalmente.

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