10 novembro 2013

Das pelugens e indumentárias


Foi-se o tempo em que usar barbas, cabelos longos e tatuagens, tocar Beatles e Geraldo Vandré, eram formas efetivas de protesto contra a hipocrisia dos costumes. Nos idos de 60 e 70, quando esse estilo ganhou maior notoriedade, o rigor moral contrastava com os interesses obscuros dos ditadores e dos senhores da guerra. Assim, incorporar uma expressão que denunciasse tal contradição, de fato, demonstrou descontentamento e causou o choque pretendido. 


Hoje, o contexto é outro. Che Guevara se tornou estampa de camiseta. Os barbudos chegaram ao poder. As tatuagens são representações artísticas sofisticadas e lucrativas, muito diferentes dos rascunhos de antigamente. Os costumes mudaram. A moral também. O ‘desalinho’ virou marca aceita socialmente e convergente com o capitalismo. No entanto, o que se percebe é que muitos jovens continuam usando esses artifícios como meio de mostrar descontentamento às coisas como estão. 

Nada contra a expressão estética contida nas pelugens e indumentárias. Pelo contrário, é agradável a diversidade nesse mundo muito monocromático. O problema, pelo que percebo como profissional que lida com a comunicação humana, é que esses símbolos de revolta não são acompanhados por um discurso atual, como ocorreu com nossos avós. São movidos, talvez, pelo fanatismo inconsciente a uma geração lendária. Geração esta que chegou ao poder e, depois disso, arruinou as ilusões de quem sonhava com mudanças de fundo na sociedade.

Protestar efetivamente, nos dias atuais, é permanecer com a consciência ativa. Sem os vícios que fazem girar o mercado farmacêutico. Sem os ‘preconceitos de velhos conceitos’. Sem os rótulos da superficialidade. Pouca televisão. Menos barulho e mais silêncio. Novas músicas autorais. Se voltar menos às contradições externas e mais às internas, já que das segundas derivam as primeiras. Isso, com ou sem tatuagens, com ou sem cabelos grandes, com ou sem óculos coloridos. Antes, o discurso baseado na ética. Depois e -- naturalmente -- a estética.

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