02 agosto 2010

O sonho de um poeta: André Moraes

Junto a um trabalho formal e burocrático, entre os quase 3 mil funcionários públicos municipais de Apucarana, André Moraes carrega um sonho. Poeta desde a adolescência, quer publicar um livro e, quem sabe, viver só desta arte. Talento, ele tem. Um de seus textos foi selecionado para uma coletânea tradicional montada por uma editora carioca. Mas não se ilude. Reconhecendo as dificuldades que o ofício encerra, pretende seguir o exemplo deixado por grandes mestres da poesia nacional.


André Luis Rocha de Moraes, nasceu em Apucarana, Paraná, mas aos 5 anos se mudou para o município de Marialva. Ele se lembra de um período não muito farto na infância. O pai era caminhoneiro, a mãe empregada doméstica. Aos 20 anos, voltou a Apucarana, onde vive há cinco anos. Ele já trabalhou como vendedor em indústrias da cidade, mas atualmente estuda Administração e Marketing, na Faculdade de Apucarana (FAP), e é gestor administrativo do setor de transporte da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano. Ele afirma que gosta do que faz, mas reconhece que a poesia ocupa um lugar especial em seu coração.

Leitor assíduo de livros e letras de música, desde os treze anos se interessa pela arte de usar a palavra para expressar sentimentos. Referências como Legião Urbana, Frejat, Os Paralamas do Sucesso, além de poetas como Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Olavo Bilac e Guimarães Rosa influenciaram no seu processo de criação. Pelos seus cálculos, até hoje já escreveu cerca de quatrocentas poesias. Seu estilo, ele define em versos. “Minha poesia não se prende a regras/Nem tampouco a contextos gramaticais/Meu coração é meu professor, e mais/Faço da inspiração a palavra expressa“, cita o texto Da Minha Poesia, de sua autoria, sem esconder, no entanto, uma quedinha por sonetos.

No ano passado, André resolveu publicar seus textos de maneira mais séria. Criou um subdomínio com seu nome no site Recanto das Letras (1) e passou a disponibilizar ali seus textos favoritos. Em seu universo temático há espaço para produções singelas como “Poeminha” [(...)E se faltar-lhe as palavras/Dê-me apenas o teu sorriso/Não digas nada - só teu riso/Espelho do amor - é tudo que eu preciso] e “Teus Olhos” [Qual lugar mais belo e cristalino/São teus olhos transbordantes de alegria/Ah! E que alegria nestes olhos teus (...)], até as emocionalmente mais densas como “Soneto de Angústia” [(...) E pálido frente a meu existir ensejo/Um esquálido corpo sugestivo a morte/Pretexto pujante de minh’alma nua/E com todo o espanto desta agonia rejo/O solo árdego que me orbita a sorte/Angústia ardente de uma vida crua] e Inalcançável [(...) E pelo martírio que envolve meu ser atônito/Pode até ser, quem sabe, um amor platônico/Quem sabe? Pode ser... Por enquanto...].





Poesia de André Moraes
será publicada no livro "100
Grandes  Poetas Brasileiros"
A iniciativa de expor seu trabalho na grande rede rende alguns frutos. Entre as amizades virtuais, André conheceu Maria Helena de Paula (2). Moradora de Praia Grande, São Paulo, ele deverá lançar seu primeiro livro, “Moínhos de Vento”, em 29 de agosto de 2010, com um comentário do poeta apucaranense. Mas esta não é sua única conquista. Ele também foi um dos autores selecionados para a edição 2010 do livro “100 Grandes Poetas Brasileiros Contemporâneos”, lançado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE). Com sede no Rio de Janeiro, a entidade incentiva a produção literária de jovens autores. “Mandei para eles pela internet um texto meu intitulado ‘Se Não Fosse a Poesia’ (ler no final da reportagem) e eles o escolheram como um dos participantes. O livro será publicado em 29 de agosto”, informa o apucaranense.





Mas, como todo escritor, ele não nega o desejo de lançar um livro contendo somente textos de sua autoria. Pretende agrupar 150 poesias para, então, procurar uma editora, mesmo sabendo das dificuldades que o gênero enfrenta no Brasil. “Com certeza, gostaria de viver só dessa arte, mas infelizmente poesia não vende, não interessa às editoras. Essa é a maior dificuldade que encontramos”, pondera.

Nada que impeça a persistência de um menino “que um dia sonhou ser marinheiro
e que hoje só escreve poemas” (O Menino Que Queria Ser Marinheiro – André Moraes). Como estratégia para continuar fazendo o que gosta, o poeta apucaranense vai seguir a receita de grandes nomes do gênero, como Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, que mantiveram o ofício em paralelo à carreira na esfera pública, de onde tiravam renda. “Pretendo seguir esse mesmo caminho. Acredito que, persistindo, a gente acaba atingindo nosso objetivo”, finaliza.

Se Não Fosse a Poesia

Ah! O que seria da vida sem a poesia
Sem o entoar embriagante das canções?
Não haveria o desejar, nem as paixões
E nem sequer felicidade haveria
Trancafiada a sangrar os corações

Santo Deus! Nem o amor existiria

Não haveria encanto ao luar
E nem mesmo a magia do mar
E as esquecidas estrelas (Coitadas!)
Não mais brilhariam
Oh! Pobre natureza
Nem as flores brotariam

Se não fosse a poesia

Nada disso existiria
Nem o pôr nem o nascer
Nem a noite nem o dia

Se não fosse a poesia

Nem a existência bastaria
E não haveria ao ser o mundo
Somente o vácuo profundo

Se não fosse a poesia

André Moraes

Linkando:
site de André Moraes
página de Maria Helena de Paula

3 comentários:

  1. Difícil a gente conseguir grana fazendo o que a gente gosta. Mas se a gente tivesse todas as chances, as chances não seriam mais chances, só uma certeza insofismável e morna.
    Abraços!

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  2. Verdade. O desafio esquenta a vida dos que não estão indiferentes. Boa sorte ao André e quem mais persista em seus objetivos.

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  3. Andre um homem não deixa de viver quando morre,mas quando deixa de sonhar...Estou contigo amigo...Obrigado pela força pois "Moinhos de Ventos" é nosso e vai nos proporcionar muitas alegrias ainda.Um abraço...Helena de Paula (escritora de "Moinhos de Vento")

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