02 novembro 2010

Brasil/EUA: uma vida em 2 anos - Parte I

(arquivo pessoal) A direita, Karine: é o Brasil no Grand Canyon
Em 2007, com 19 anos, a professora de inglês Karine Bená deixou a família em Arapongas-PR para passar algumas temporadas nos Estados Unidos, através de um programa de intercâmbio cultural. Nos dois anos que permaneceu naquele país, experimentou emoções que poderiam valer para toda uma vida. Momentos de tristeza, como a morte dos pais. De alegria, como vigens, amizades e romances. E de importância histórica, como a Crise Econômica Mundial e a eleição de Barack Obama. Durante as próximas semanas, ela narra em primeira pessoa suas impressões sobre cultura, a vida social e tudo aquilo que está guardado para sempre em sua memória. Clique para conhecer as primeiras partes dessa história.


A decisão e o processo de seleção

Em Julho de 2007 eu terminei o penúltimo semestre do meu curso de inlgês. Naquela época eu trabalhava em um escritório de Seguros e fazia facul. Vida normal, rotineira, trabalho, faculdade, namorado, família. Porém, eu sentia que precisava de algo mais. Minha escola de ingles começou a divulgar um curso extensive nos Estados Unidos por uma agência de viagens, a CI. Eu sabia que nunca poderia pagar um curso de inglês no exterior, mas mesmo assim, me cadastrei para receber informações.

No mesmo dia, pesquisei sobre a agência e a única coisa que eu pensava era: “Tem que ter algo pra mim”, e foi assim que encontrei informações sobre o Au Pair (do francês, “a par” ou “igual”: no Brasil, trata-se de umprograma de intercâmbio cultural, onde a pessoa torna-se “membro” temporário de uma família estrangeira. No caso de Karine,prestando serviços como babá). Perfeito, eu tinha experiência com crianças, o preço era acessível, e era nos Estados Unidos. Agora era só esperar pelo contato da agência. Assim que recebi todas as informações, era hora de dar a notícia para minha mãe. “Mãe, quero ser Au Pair nos Estados Unidos”……….. breve silêncio. O choro começa. Ela me perguntava por que, mas no fundo eu sabia que ela sentia que um dia eu iria sair dali, debaixo da saia, mas acho que ela não queria aceitar que fosse tão cedo. Em um país onde a maioria dos filhos só saem de casa quando casam, ter uma filha mundando para um país diferente aos 19 anos pode ser um pouco chocante.
Ok, depois de alguns dias tentando me convencer a não ir ela se conformou e começou a me apoiar. A maioria da minha famíla estava bem empolgada com a novidade, todos me dando apoio, até mesmo meu namorado. Começou a corrida para preencher toda a documentação e achar uma família hospedeira.

A escolha da família, os últimos preparativos e o embarque

Depois que mandei toda a documentação necessária, era só esperar o contato de alguma família. Não demorou muito para que eu recebesse o primeiro contato. Foi de uma família em Everett, WA (Washington). Um víuvo e duas crianças de 8 e 11 anos na época. Que alegria, quando vi o e-mail e liguei para casa e, lógico, a primeira a saber, minha mãe, só conseguiu falar: “Que bom”…. “Mãe, não chora”…… “Ah filha, fico feliz, muito feliz”. Mães, todas iguais, hehe...

Comecei então a trocar e-mails com essa família, de alguma forma, nós combinamos. Eles pareciam ser exatamente a família que eu procurava. Fechei contrato com eles mesmo. Sem procurer por outra família. Ele era viúvo, precisava de ajuda porque a esposa havia falecido há pouco tempo e eu, sem saber que futuramente ia precisar muito deles - especialemente deles -, resolvi que aquela seria a minha hostfamily (por tradução livre, família de acolhimento). Depois de algum tempo, data de embarque marcada. Dia nove de dezembro, logo após minha formatura do curso de inglês.

No dia 7 de dezembro sai de Arapongas-PR em um ônibus rumo a SP. Alguns parentes iam me receber lá e me levar ao aeroporto. Me despedi de todos, não chorei muito, acho que estava animada demais para me sentir triste. Chegando ao aeroporto, fiz o check in e na sala de embarque mesmo encontrei algumas meninas que iriam ser Au Pairs. Fiz algumas amizades e naquela noite eu dormi no Brasil e acordei em solo Americano.
New York New York, treinamento e a pior notícia que se pode ter.
Quando chegamos em NY, na segunda-feira à noite, fomos recepcionadas por duas coordenadoras do programa. De lá, fomos levadas ao hotel onde ficaríamos por 4 dias. Nos reunimos em uma sala grande, meninas do mundo inteiro, todas prontas para embarcar em um ano de aventuras em um novo país. Fizeram a distribuição de quartos de acordo com a região do país onde iríamos morar.

Em meu quarto ficaram eu, uma brasileira, que se tornara minha melhor amiga (Eve) e uma francesa. Recebemos o cronograma da cidade e um cartão para ligações internacionais. Já era tarde no Brasil, mas liguei mesmo assim. Falei com minha mãe, que estava com uma voz sonolenta, pelo jeito dormindo. Falei com ela por alguns minutos, só para dizer que tudo estava bem.

No Segundo dia, começou o treinamento. Um dia inteiro de palestras e a noite uma tour por NYC. Não bem à noite, pois saímos às 5 da tarde. Porém, 5pm no inverno de NYC é como 8pm do Brasil: escuro, como se fosse noite. Tive a sorte de conhecer New York da melhor maneira possível. Era dezembro, e as lojas estavam todas preparadas para o Natal. A cidade parecia mágica. Luzes em todos os lugares, pessoas caracterizadas na rua, músicas de Natal tocando nas lojas, e muita, muita gente. Uma noite apenas não é, nem de perto, suficiente para conhecer a cidade. A iluminação, o espírito natalino, o frio, patinadores de gelo no meio do Central Park, tudo contribuia para transformer NY emu ma cidade mágica.

Voltamos ao hotel super entusiasmadas. Tentei ligar para minha casa e meu cunhado atendeu. Já era tarde, mas não relacionei as coisas muito bem, acho que estava ansiosa demais. Ele disse que minha mãe não estava se sentindo bem e fora ao hospital. Nada grave, ele disse. E eu nem me preocupei. Na quarta-feira era o ultimo dia do treinamento, Na quinta, embarcaríamos para as cidades designadas e encontraríamos as famílias hospedeiras. Mais um dia de treinamento, e tour por NY.


O Natal da Time Square foi o cartão de visitas à
Karine
Nessa vez, descemos na Time Square para caminhar, e ficamos por lá mesmo. Foi onde comprei meu primeiro casaco para o frio que estava por vir. É incrível como roupas e acessórios por lá são extremamente baratos. Os famosos outlets (locais onde produtos do varejo são vendidos diretamente aos consumidores) são uma febre entre as Au Pairs. Lá se encontra qualquer coisa por preços muito bons. Acho que a Time Square é como um Paraguai sofisticado. Tudo o que você quiser se encontra lá.
Na volta do hotel, antes de ir para o quarto resolve checar meus e-mails e scraps.

Hmm, uma mensagem da minha irmã pedindo que eu ligasse pra casa urgentemente... Quando chego no quarto, descubro que deixaram uma mensagem para mim no hotel. Era do meu host father, pedindo que eu ligasse para a minha casa assim que eu pudesse. E eu liguei. Minha tia atendeu e me deu as notícias. Na terça-feira a noite minha mãe havia passado mal. Ela desmaiou, foi levada ao hospital e estava em coma. Como aconteceu? Ninguém sabia. Até aquela hora, os medicos só podiam dizer que ela estava fraca demais para fazer qualquer tipo de exame. A situação era de risco extremo.

Meu mundo caiu. Sabe aquela sensação de que o chão desparece debaixo dos pés? Acho que foi aquilo que experimentei. Um milhão de perguntas passavam pela minha cabeça, mas a única coisa que eu podia dizer era: Não, por favor, não! Depois de muito conversar com meu host father, com minha família e com a coordenadora do programa, decidi que mesmo com aquela situação eu seguiria a Seattle para continuar no programa. Eve, minha colega de quarto tomou conta de mim, e acho que foi assim que criamos um laço de amizade muito forte.Continua...

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