19 novembro 2010

Brasil/EUA: uma vida em 2 anos (parte2)

Karine se surpreendeu com o tamanho e a beleza de sua casa nos EUA
Na segunda parte da História de Karine (ou Karyn) Bená em terras norte-americanas, ela conta como foi recebida pela nova família e narra o recebimento da pior das noticias. A araponguense estava se adaptando à nova realidade de sua vida.



Seattle, welcome Karyn e a nova casa
Chegando em Seattle, meu host father me esperava com a menina. Eles trouxeram flores e me ajudaram com as malas. Todos se sensibilizaram muito com a situação e eles foram muito gentis, sempre perguntando se tudo estava bem. Eu estava muito tímida e também acho que tinha um pré-conceito formado, aquele de que americanos são frios e fechados. Aos poucos, entendi que as coisas não são bem assim. Do aeroporto até a minha casa eram uns 30 minutos, e durante a viagem conversamos bastante sobre o treinamento, os vôos e a rotina que eu iria ter.

Chegando em casa, conheci a avó (maternal) das crianças. O menino estava um pouco doente, veio todo tímido me cumprimentar. Levei as malas ao meu quarto e comecei a me organizar. Wowwwww, que casa. Linda, grande, sem portão, grades nas janelas, duas lareiras, banheira em dois dos três banheiros e uma hidromassagem do lado de fora, ou como chamada, hot tub. A casa estava toda decorada para o Natal e na lareira da sala de estar umas meias penduradas. Uma delas com o meu nome. Karine, porém descobri que é praticamente impossível fazer um Americano falar meu nome correto, então me tornei Karyn.

Depois de descansar um pouco, meu chefe me levou para uma tour pela casa me explicando tudo o que eu deveria fazer. Onde encontrar a comida, onde lavar a roupa, em geral, onde estava cada coisa da casa. Depois disso, fizemos uma pequena reunião para conversar sobre os meus direitos e deveres. Ele era super organizado. Havia preparado uma pasta com todas as regras e também com a rotina das crianças. Naquele final de semana, a vó ficaria para me ajudar, mas a partir da segunda-feira eu estaria por mim mesma.

Não foi tão difícil como eu imaginava. Aos poucos, eu me acostumava com a rotina e as crianças se acostumavam comigo. Claro que foi também o tempo das pérolas do tipo, puxar o botão onde está escrito push (em inglês, push quer dizer empurre) o botão sai na sua mão (clássica confusão). Também aprende que se você colocar detergente comum na dishwasher (lava-louças) você vai inundar a cozinha com espuma, e também aprende que só porque tem um triturador de alimentos na pia não significa que ele tritura tudo. Repolho vai no lixo, ou então a pia entope e você vai ter que ligar para o patrão que está de plantão no serviço para pedir socorro.

A volta ao Brasil parte I
Já estava na casa há uns 10 dias. No Brasil a situação era mesma, porém diagnosticaram o problema. Minha mãe sofreu um aneurisma cerebral. Tinha apenas 2% de chance de sobrevivência, mas eram nesses 2% que eu depositava todas as minhas esperanças. Ela não podia morrer agora. Todas as noites eu rezava muito, chorava muito. Pedia a Deus que não fizesse aquilo comigo. Fui egoísta, disse que não era justo. Não conseguia aceitar. Eu rezava e pedia ao ponto de sentir que de alguma forma eu passava forces para ela. Mas não adiantou. Um dia o telephone toca, e era o meu namorado. Sim, eu ainda tinha um namorado. Ele disse que minha mãe tinha falecido.

Desliguei o telefone. Desliguei a minha mente. Não sei qual foi a minha reação. Me lembro de poucas coisas daquela período de tempo. Sei que meu host father me abraçou, eu fui para meu quarto, minhas crianças vieram, chorando muito, me abraçaram, ficaram comigo por um tempo. Elas sabiam exatamente o que eu estava sentindo, pois tinham perdido a mãe há pouquíssimo tempo. Meu chefe então sugeriu que eu voltasse ao Brasil para passar um tempo com minha família. Seriam as minhas férias adiantadas. Ele mesmo procurou a agência de seguro e tomou conta de todas as coisas.

No dia 22 de dezembro, embarquei para o Brazil. Que sensação horrível. Não fazia muito tempo que eu havia partido, mas já estava tudo mudado. Senti que naquele momento, minha casa já não era mais minha. No dia 31 de dezmbro, voltei para Seattle. Não podia fazer mais nada a não ser continuar o que havia começado. E assim, embarquei definitivamente nesses dois anos que mudaram a minha vida.

Casa nova, vida nova.
Quando voltei aos Estados Unidos resolvi que iria fazer o melhor que pudesse. Claro que a ferida da perca da minha mãe estava aberta e exposta, mas eu tinha que continuar. Já ouvi de várias pessoas que elas não saberiam o que fazer se algo similar acontecesse. Eu também não sabia, acho que ainda não sei. Na verdade acho que não há nada certo a fazer, na verdade, a única coisa que pode ser errada é não fazer nada.

Armário da casa onde Karine ficou instalada

Comecei a me readaptar ao novo país, as novas regras, a nova família. Não tive muita dificuldade. Eu achava tudo muito novo. Sabe, ver o ônibus amarelo levar as crianças à escola, andar pelas ruas e ver montanhas cobertas de neve. Andar pela vizinhaça para mim era como andar em um cenário de filme Americano. Tudo parecia fantasia ao mesmo tempo em que era real. Com o tempo me acostumei. Aprendi a dirigir, aprendi a respeitar placas de trânsito, aprendi a andar na calçada e a parar para pedestre atravessar. Também aprendi a tomar café, e a odiar leite.

Depois de uns 3 meses, eu acho que já estava praticamente acostumada com tudo. Menos com a dieta da casa. Os produtos eram muito industrializados e eu não fui criada para comer coisas que vem de caixas e latas o tempo todo. Para mim, tudo tinha o mesmo gusto. Realmente, isso não tem comparação. A culinária brasileira é muito melhor. No começo até tentei cozinhar sempre para mim. Eu tinha a liberdade de pedir o que quisesse para o meu patrão, mas no fim, eu era a única que comia o que fazia. As crianças eram acostumadas com uma dieta baseada em macarrão, chicken nuggets e sanduíches. Algo que nunca concodei.

Além dessa dieta, elas também tomavam vitaminas todas as manhãs. Um dia qustionei meu patrão sobre isso. Ele me disse que os “países de primeiro mundo” descobriram que crianças que tomam vitaminas se tornam adultos mais saudáveis. Na hora eu só soltei um daqueles: Ahhh, ok! Mas o que eu tinha em mente mesmo era: “bom, criança que come fruta e verdura também”. Mas pra que discutir, não é mesmo.

Um comentário:

  1. A propósito: Nós, aqui de Arapongas, já chamávamos Karine de Karyn antes mesmo de sua partida. rsrs

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