05 julho 2010

A Esperança para a próxima Copa

Aos poucos a diversidade de cores volta a aparecer. No alto do mastro, a bandeira brasileira tremulando solitária no paço municipal já destoa um pouco do resto da cidade. A combinação modal que efeitava vitrines, janelas, calçadas, fachadas, roupas e tudo mais que fosse possível, vai sendo trocada.(...)





Persistem somente os elementos naturalmente verde-amarelos. O sol que derrama seu brilho dourado sobre a copa das árvores. A bela loira de olhos verdes. O ônibus verde-amarelinho.

Acabaram os gritos, sorrisos, vuvuzelas em ação, Jabulanis na oração. Aquela euforia aguardada e repentina parece cessar. É mais fácil culpar o treinador do que o chefe do treinador. A tevê, que durante quase um mês sagrou os humores e as dores do pobre anão e seus 23 milionários, se esforça: "o Brasil está fora, mas a Copa continua". Patrocinadores apresentaram propagandas de consolo no primeiro intervalo comercial após a eliminação. Já não é a mesma coisa. Os "guerreiros" já não têm um motivo justificável para se embriagarem em plena tarde de terça-feira.

Enquanto o patriotismo perde espaço na programação, pela janela ressurge o coro de um país existente no intervalo entre quatro anos. Os políticos que "trabalharam" durante a Copa, os jovens que pensam que o sexo é mais importante que a própria a vida, e o faminto que pede esmolas enquanto uma senhora sai da loja com a nova grife para animais de estimação, todos eles gritam silenciosamente: - Brasil!

Por outro lado, cada Copa nos oferece oportunidades. Sim, pois o futebol não é somente o ópio hipnótico que desvia nossa atenção do que realmente importa, e que enaltece marcas e enriquece cartolas. Quando chega essa época, existe uma mobilização, uma sintonia, uma união em torno do que existe de mais comum no nosso país: o fato de sermos brasileiros. Conhecemos um pouco mais de nós mesmos, nossos valores, prioridades, e nos alinhados num mesmo objetivo. Tudo é apresentado de forma bem didática, ainda que para perceber seja necessário se isolar como observador e perder um pouco da festa.

Mas, infelizmente, nesse ano essa oportunidade terminou. Agora, o jeito é esperar. Esperar que a vibração sincera pela seleção permaneça quando o assunto for verdadeiramente o país. Esperar que o futebol possa ocupar o lugar em lhe é devido por aqui. Esperar que, quando a Grande Festa Mundial chegar ao Brasil, em 2014, as palavras do poeta Ferréz façam menos sentido para nós:
“Família é sintonia, dizem os poetas urbanos sobreviventes do inferno para aqueles de mentes tristes, porém fascinadas em igual proporção com as ilusões carnavalescas de um país que luta por seus times de futebol, mas não luta por sua dignidade”. ( livro: Capão Pecado)

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4 comentários:

  1. Eu prefiro a mulé de zóio verde. Não há como destoar e não se tornar selvagem com este esporte que mexe com os membros não domesticados pela Revolução Industrial, como diria José Arbex. É inexplicável a variação de humor que tenho durante uma partida, da euforia mais eufórica possível à depressão mais depressiva imaginável. É assim! (Já tô juntando os trocados pra 2014, pelo menos uns três jogos X 2 ingressos, ahaha). Abraços!

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  2. Realmente, **** é quase irresistível a irracionalidade do futebol. Também desejo ver Neymar e Ganso no Maraca. Bom seria se vibrássemos com o futebol no domingo, mas recuperássemos a razão na segunda.

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  3. "O famoso jeitinho brasileiro.

    (...)Na minha opinião, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira.
    Brasileiro se acha malandro, muito esperto.
    Faz um 'gato' puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar.

    No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto... malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí?
    Afinal somos penta campeões do mundo né?? ?
    Grande coisa. (...)"

    Arnaldo Jabor


    Tomara que estas palavras também nos façam menos sentido.

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  4. Realmente, Laila. Com as palavras que citou, me lembrei daqueles jogadores de futebol tão tão brasileiros que fazem falta, sabem que fizeram a falta, sabem que o juiz viu a falta, sabem que o todas as câmeras captaram a falta e, mesmo assim, levantam os braços alegando inocência... Chega a ser engraçado.

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